Espelhos, miradouros, dialéticas da percepção.

Livro de Cristiane Sobral.

Frente ao espelho o que se vê a refletir em jogos do inverso do verso? Frente ao espelho o que se vê e que nos versa na magia de nos revelar? O elo de nos desatam-se e nos despe, espelha e espalha formas. Começamos a nos ver segundo a nossa imagem e semelhança.
“Ficou frente ao espelho do banheiro um longo tempo. Seus olhos refletiam uma expressão bastante dura. Cara de pau. Sem máscara ele até que não era tão estranho. Parecia gente. Parecia com tanta gente. Com toda a população do Brasil.(Garoto de plástico, pag. 28.)”.
E há muito sabemos que a população brasileira é negra, o que foi confirmado no último senso do IBGE. O livro Espelhos, miradouros, dialéticas da percepção, é o espelho que Cristiane Sobral tira da algibeira da palavra, e na construção literária dos contos espelha os rostos sociais de uma sociedade que se nega enquanto negra.No entanto é necessário mirar-se. Inquietar-se. Olhar novamente e novamente olhar. Um jogo de espelho contra espelho. O reflexo e o refletido. O refletido e o reflexo. Até se tornar um todo.
“No seio das nossas famílias negras, com lugar para inúmeros filhos do corpo ou do coração, aprendemos a conviver com nossas misérias e farturas, simplesmente porque sempre é possível colocar mais água no feijão, temperar e sorrir ou chorar e seguir em frente. Os nossos velhos não morrem de amnésia dos asilos luxuosos. (Memórias, Pag. 58.).”
E depois de se perceber inteiro, caminhar de mãos dadas com a vida, o único bem que vale a pena guardar por muito tempo, até o ponto de entrega-la a guardadora final que é a morte.
“Hoje diante do espelho que reflete a nossa caminhada juntos, a nossa vida compartilhada, temos o prazer de seguir adiante, a construir a nossa estrada, a enfrentar desafios de uma vida de alegrias, dores e as eventuais surpresas da existência. (As visitas do meu namorado, pag. 93).”
Enfim, Espelhos, miradouros, dialéticas da percepção nos faz olhar, crer, refletir e perceber-se diante do espelho da vida.
“Sigo a crer nos meus espelhos mágicos. Uma coisa é certa: a nossa ancestralidade continuará na memória dos nossos descendentes enquanto pudermos lembrar e levar adiante os seus princípios. (Memórias, pag. 58.)”.

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