InCorPoros - O erotismo negro

InCorPoros - O erotismo negro


“O erótico não é sobre o que fazemos: é sobre quão penetrante e inteiramente podemos sentir durante o fazer. Audre Lord.”

Esta frase da Escritora norte americana Audre Lord me fez pensar nas delícias que desvendam os segredos dos lugares mais prazerosos de nossos corpos despertando inundando de sensações os sentidos, soltando a imaginação, incitando a percorrer mundos. Os segundos do instante-êxtase que se torna infinitos, e ofegantes somos capazes de exercer o poder de nós autodesfrutar, autoconhecer ou se reconhecer. Audre afirma que é “exercitando o erótico que mora no interior de nós enraizado no poder de nossos sentimentos não pronunciados”, nos tornaremos suscetíveis a experimentar novas sensações e nos apossarmos do prazer, tanto de sentir como de proporcionar.
As sensações do erótico nem sempre são proferidas para muitos, mas aqueles/aquelas que por força do exercício da palavra se designam escritoras∕escritores e poetas e assume para si a função de dizer relatar, com arte, os sentimentos e sentidos da existência humana que carrega todos os sentir, as emoções advindas do ato humano no contato corpo a corpo é um campo rico de inspiração.
O exercício erótico da palavra quando o escritora/escritor for negro/negra se transforma no grande desafio de se desvencilhar da carga simbólica, que social e historicamente o corpo de um homem negro e de uma mulher negra carrega. Ou seja, tomar posse e resgatar o sentido de um corpo é ter que resimboliza-lo, livrando-o das cargas diversas de estereótipos sobre a sensualidade e sexualidade, por exemplo: se for homem negro tem a obrigação de ser bem dotado, o símbolo do pau grande; se for mulher negra representa o pecado libidinoso das tentações do homem, principalmente branco. Nos dois exemplos são corpos brinquedos, corpos objetos de dar prazer.
O livro de poemas InCorPoros: nuances de libido, com dois jovens autores Akins Kintê eNina Silva, preenchendo as 80 páginas , nos leva as delícias do prazer da autodescoberta do corpo-libido-negro. Ao exercer o prazer solitário da leitura, os sentidos nos levam ao ato do encontro onde se faz necessário tocar-se, apalpar-se e reconhecer-se em palavras-sentidos-sentimentos, incitando a atitude de nos pertencer, nos livrando da prisão de significados depositados sobre o corpo-libido-negro.
Despudoradamente vamos apreendendo que o erótico é a energia da penetração em nós mesmo, onde a fala se transforma num falo que escritoras/escritores/poetas, podem manusear ao seu bel prazer e penetrar com toda a plenitude no mais intimo da palavra que vaginando se abrirá no mais intenso gozo inundando os enunciados do corpo negro ocultado, vilipendiado, estuprado em camas literárias alheias a nossa vontade.

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